Índice

Cooperativa APC

2

 

 

Ciclídeo Notícias

3

 

 

Renovação de quotas

4

 

 

Neolamprologus leleupi

4

por Manuel Zapater

 

 

 

Cynotilapia afra

8

por José Pedro Ferraz da Cruz

 

 

 

Apistogramma hongsloi

13

por Ricardo Fernandes

 

 

 

   
   
   
   
   
   
   

Editorial

por Paulo José Alves

Presidente da APC (#2)

 Um dos sinais identificativos dos criadores empedernidos, quer de Ciclídeos quer de qualquer outro grupo de peixes de aquário, é a sua quase obsessão em reproduzir as espécies que adquire, apenas tê-las não interessa. Os criadores veteranos tiram o grande prazer do nosso hobby em fazer surgir pequenas réplicas das espécies que mantêm. O não acontecer desta multiplicação é uma negação das suas capacidades e de alcançar plena satisfação. Não existem muitos criadores a sério em Portugal mas existem. São sempre pessoas que se dedicam a este “passatempo” há muitos anos, quase sempre desde a adolescência. Conhecem a fundo as técnicas e de tal maneira que fazem coisas que não vêm nos livros, já reproduziram uma infinidade de espécies e aquelas que estão à espera têm muitas vezes nomes que nada dizem à generalidade dos aquariófilos. Na maior parte dos casos têm dezenas de aquários, despendendo quantias substanciais em electricidade e comida para os hóspedes de escamas. Os excedentes vão para o comércio local mas o abastecimento de novas espécies é mais difícil. Estando geralmente bem informados através de revistas e livros publicados no estrangeiro e por contactos com criadores estrangeiros, as espécies desejadas que aparecem nessas publicações não existem no anémico mercado português. Isto significa que para obstar a esses obstáculos tem-se que muitas vezes recorrer a importações directas, compras aquando de viagens, importações através de lojas ou grossistas que fazem o jeito…etc. Estamos no entanto a falar de excepções, o aquariofilo-ciclidófilo comum não despende tanto tempo nem energia com este interesse. Sendo assim o seu interesse de intensidade menor, e os seus meios menores leva a que a realidade portuguesa neste campo seja muito mais pobre que na maior parte dos países da Europa. E um dos factos relevantes é precisamente a falta de interesse, de insistência, na reprodução das espécies que se possuem. Isto implicaria que se tomassem medidas para sustentar as eventuais reproduções. Ora o que se passa é que na maior parte dos casos as reproduções ocorrem sem que o dono do aquário esteja preparado para tal evento. Não lhe ocorreu que tendo tais adultos de tal espécie do Malawi seria provável que mais cedo ou mais tarde o inevitável acontecesse. O mesmo acontece para outras espécies Africanas ou Neotropicais que com condições minimamente aceitáveis inevitavelmente vão-se reproduzir. O criador sente-se optimamente por experimentar a reprodução mas logo lhe chega a questão de o que fazer para que tudo se conclua da melhor maneira e sobretudo o que fazer com os alevins? Um dos indicadores desta falta de preparação é a quantidade de criadores que nunca produziu naúplios de Artémia! Este alimento de alta qualidade é vital na alimentação dos jovens e não é difícil de produzir, mas esta necessidade esbarra muitas vezes com a ignorância ou o não querer ter o trabalho necessário. O que leva ao fracasso é o não prever o óbvio. Para manter as crias é claro que tem que se ter outro aquário onde as pôr além daquele onde estão os pais. Quantas vezes se vêm alevins ou jovens em exíguas maternidades na parte superior do aquário onde os pais as tiveram? E depois, o que fazer com elas? Se se quer manter o que quer que seja é necessário ter condições para tal. Isto geralmente quer dizer, mais aquários, filtros, comida etc. O dar crias a amigos é um aspecto agradável da coisa mas infelizmente não só a mortalidade é alta, pois que muitas vezes quem recebe não tem condições e ou conhecimentos suficientes mas também o que se dá não está propriamente identificado podendo fazer com que no futuro haja cruzamentos indesejados. No comércio aparecem ocasionalmente híbridos mas nas ofertas e trocas entre amadores o seu número é muito mais frequente. Não há obviamente qualquer intenção de enganar ou prejudicar ninguém trata-se puramente de ignorância e boa fé. Há que saber o que se tem, de onde veio e com quem se cruzou. Há a necessidade premente de reproduzir mais espécies de Ciclídeos em Portugal e de os manter cá. Isto não é fácil pois que as nossas capacidades de “armazenamento” são poucas mas seria interessante manter um registo de quem tem o quê e até de criar grupos especializados em determinados grupos o que facilitaria a manutenção permanente de algumas espécies em Portugal. A direcção da APC acolherá com interesse qualquer iniciativa dos sócios nesta direcção. ¥


Apistogramma hongsloi (Kullander, 1979)

Artigo de Ricardo Fernandes; APC #14

Fotos de Delfim Machado; APC #23

 

O Apistogramma hongsloi é originário da América do Sul, das bacias do rio Orinoco na Venezuela e dos rios Meta e Vichada na Colômbia.

O hongsloi é um peixe em que o macho fica com 7-8 cm e a fêmea com 5 cm, com a típica forma dos Apistogrammas, corpo comprido, comprimido lateralmente ficando mais alto do que largo.

O corpo do macho é cinzento azulado com a cabeça amarela e a região anal é de um vermelho intenso, possui uma lista negra longitudinal que começa na cabeça, passa pelo olho e acaba na base da barbatana caudal. As suas escamas são debruadas o que lhes dá um aspecto característico de rede. A quantidade de vermelho na zona anal e no pedúnculo caudal varia muito entre as populações e mesmo entre cada peixe da mesma população, existe inclusive uma variedade com mais vermelho que foi obtida através de selecção. Na barbatana dorsal no macho a extremidade posterior ultrapassa a barbatana caudal e possui manchas iridescentes azuis e vermelhas. A fêmea na época do acasalamento torna-se de um amarelo intenso com uma lista negra bem definida longitudinalmente que lhe atravessa todo o corpo e outra risca vertical na cabeça que atravessa o olho e acaba no opérculo.

A literatura especializada refere que o pH da água para a sua manutenção é entre 5,5 e 6,0, o GH menor que 6º e o KH de 1º, com uma temperatura entre os 25 e 30 ºC, e que os parâmetros da água ideais para a sua reprodução, ainda sejam mais extremos tais como o pH perto de 5 e o KH a zero, eu mantenho os meus espécimes em parâmetros ligeiramente diferentes com bastante sucesso.

Adquiri 5 exemplares e coloquei-os, com mais 5 exemplares (para outro sócio da APC que não pode na altura ir recolher os seus peixes) num aquário de 72 litros (60x30x40 cm) preparado já a algum tempo para o efeito. Na semana seguinte e depois de entregar os 5 exemplares ao seu dono, retirei dois machos (entretanto uma das fêmeas tinha morrido) e coloquei-os num aquário de 288 litros, deixando o macho que me pareceu mais resistente e a fêmea restante no aquário preparado para eles.

O aquário de 288 litros é um aquário de manutenção e a fauna é composta por Discus, um casal de Apistogramma viejita, alguns Ancystrus, um pequeno cardume de Corydoras pigmeas e um cardume de pequenos tetras, como podem ver, tudo peixes de águas ácidas e macias, onde os hongsloi se enquadraram sem problemas.

O casal que foi separado para o aquário de 72 litros tem como objectivo a sua reprodução e por essa razão coloquei-os com os parâmetros da água o mais perto possível do ideal, já que as condições que a literatura especializada se refere é bastante difícil de conseguir, sendo assim eles ficaram colocados num pH 6,5, GH 2 e KH 3, com a temperatura a      26 ºC.

A decoração do aquário foi feita com alguns troncos e com bastantes plantas, o areão é de rio com uma granolometria entre 0,5 cm e 1 cm. A filtração é realizada por um filtro de decantação, com cerâmicas e lã de vidro, e com uma cabeça motorizada que faz uma circulação de água de 200 litros/hora. A iluminação é feita por uma lâmpada de 36w com reflector.

A alimentação não é problemática, aceitando todo o tipo de comida, seja flocos, grânulos, comida liofilizada ou congelada. No meu caso, tanto o casal que se encontra separado, como os machos que se encontram no aquário de maior tamanho têm uma dieta igual aos restantes peixes, flocos de manhã e no final da tarde granulado ou artémia, larvas vermelhas de mosquito congelada ou então uma papa feita por mim, e ao fim de semana dou-lhes mais uma refeição ao início da tarde à base de flocos ou grânulos.

Em Fevereiro e para meu espanto, já a água se encontrava a 23ºC, derivado a que o termóstato não conseguia manter a água mais quente por causa do frio, a fêmea desovou. Nesta primeira postura a fêmea colocou cerca de 20 ovos no interior duma gruta formada por duas pedras, outros aquariófilos relatam posturas sobre vários tipos de superfícies lisas como rochas planas ou então troncos. Passadas 24 horas os ovos estavam todos cheios de fungos, penso que esta desova se tenha perdido pela inexperiência da fêmea, ou então por causa da temperatura ser demasiado baixa.

Passado um mês após a 1ª postura, a fêmea voltou a desovar, no mesmo local, agora a uma temperatura de 26ºC e desta vez o número de ovos foi cerca de 30.

A literatura especializada afirma que ambos os elementos do casal tomam conta da postura, no meu caso quem areja e toma conta dos ovos é a fêmea, ficando o macho a defender o território que é toda a área do aquário, por ser este um aquário só de 60 cm de comprimento.

Ao fim de 72 horas os ovos eclodem e os alevins começam a nadar. Consumiram o saco vitelino, em cerca de 48 horas.

A alimentação dos alevins não oferece grandes problemas, já que estes aceitam de boa vontade qualquer comida que lhes caiba na boca. Para um crescimento óptimo a alimentação deve ser à base dos náuplios de artémia, recém eclodidos, e ser complementada com comida em pó de boa qualidade.

Termino este pequeno artigo afirmando que o Apistogramma hongsloi é um ciclídeo anão muito interessante, com um comportamento tranquilo e bastante resistente, que num aquário com boas condições não causará quaisquer problemas. ¥

 


Associação Portuguesa de Ciclídeos

Apartado 28 – 7300 Portalegre